Há pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.
Ando pensando no valor de ser só.
Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias.
Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres.
Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.
Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.
Eu também fico indignado, mas de outro modo.
Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual.
Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do "pode ou não pode".
A sexualidade é apenas um detalhe da questão.
Castidade é muito mais.
Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena.
Digo por mim.
Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo.
Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço.
O fato de não me casar, não me priva do amor.
Eu o descubro de outros modos.
Tenho diante de mim a possibilidade de ser daqueles que precisam de minha presença.
Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado.
É o que tento viver.
É o que acredito ser o certo.
Nunca encarei o celibato como restrição.
Esta opção de vida não me foi imposta.
Ninguém me obrigou a ser padre, e, quando escolhi sê-lo, ninguém me enganou.
Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites.
Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades.
Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos.
É questão de maturidade.
Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só.
Pe. Fabio de Melo sobre o Celibato.

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